A Fórmula 1 possui um histórico único de circuitos marcantes para o automobilismo mundial, contando com histórias emblemáticas em seu currículo de provas, como a fantástica – e para alguns até mística – relação entre o Grande Prêmio de Mônaco e Ayrton Senna.
Tricampeão mundial da categoria em 1988, 1990 e 1991, a lenda brasileira marcou seu nome de forma nunca antes vista no esporte a motor, tornando-se assim um dos maiores ícones esportivos da história. Dentre diversas vitórias, as conquistadas no distrito de Monte Carlo estão entre as mais emblemáticas de sua carreira.
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Um “casamento” entre Ayrton Senna e Mônaco
Antes de Senna, outro campeão mundial de Fórmula 1 tinha o tradicional Circuit de Monaco como sua marca: trata-se então do bicampeão Graham Hill, que venceu nada menos que cinco edições do GP de Mônaco.
No entanto, após Hill, a pista ficou “viúva” de um grande piloto e Ayrton Senna fez questão de, durante seu fantástico período pela Fórmula 1, traçar uma espécie de “matrimônio” com o tradicional circuito, criando assim a maior combinação entre piloto e pista que a categoria já proporcionou.
Ao todo, o brasileiro venceu seis das 10 corridas que participou em Monte Carlo, em uma jornada que passa por toda as fases de sua trajetória pela F1. O Naspistas faz agora uma interessante viagem no tempo para relembrar todo o retrospecto de Ayrton Senna no Grande Prêmio de Mônaco.
1984 – O primeiro contato
Ainda em seu primeiro ano pela Fórmula 1, Senna se apresentou de fato ao mundo do automobilismo em Mônaco, ao volante da pequena Toleman. Após largar da 13ª colocação, a chuva deu o ar de sua graça no circuito, dando então ao brasileiro a oportunidade de mostrar seu dom em pistas molhadas.
Em uma recuperação incrível, Ayrton deixou nada menos que Niki Lauda para trás, em um dos primeiros momentos marcantes de sua caminhada pela categoria. Assim, ele colou no líder Alain Prost, mas a prova foi encerrada pelo então diretor Jacky Ickx devido às más condições da pista, justamente quando Senna estava prestes a assumir a liderança.
De qualquer forma, um improvável pódio em P2 na sua primeira apresentação em Mônaco, demostrando grande talento na chuva, foi mais do que suficiente para chamar atenção dos amantes das corridas para o futuro tricampeão mundial.
1985 – Primeira pole e a primeira decepção em Mônaco
No ano seguinte, um ainda promissor Ayrton Senna já possuía um carro melhor para enfrentar a tradicional e perigosa pista. No volante de uma Lotus, o brasileiro pôde assegurar a sua primeira pole-position no Principado, a terceira em quatro provas até então naquela temporada.
Na largada, ele segurou a pressão do italiano Michele Alboreto, da Ferrari, mantendo assim sua primeira colocação. No entanto, problemas no motor de seu carro o fizeram abandonar a prova na volta 13, aniquilando assim o que poderia ter sido sua primeira vitória em Mônaco.
1986 – Mais um pódio em Mônaco
Senna e sua Lotus marcaram o terceiro melhor tempo na classificação em Mônaco na temporada de 1986. Na largada, ele superou Nigel Mansell e sua Williams e perseguiu a McLaren de Alain Prost durante a primeira parte da prova. Porém, com a alta degradação dos pneus, seu ritmo diminuiu e ele retornou dos boxes em 3º lugar, atrás também da outra McLaren, pilotada por Keke Rosberg.
Ayrton Senna ainda se manteve na colocação em que largou, garantindo assim seu segundo pódio em Monte Carlo, mas alimentando uma sina por uma vitória na emblemática pista.
1987 – Finalmente, a primeira vitória de Ayrton Senna em Mônaco
Ainda pela Lotus, o lendário brasileiro já recebia as atenções pela expectativa de sua primeira vitória no GP de Mônaco. A segunda colocação na classificação o colocou entre as Williams de Nigel Mansell e Nelson Piquet.
A dificuldade, no entanto, não assustou Ayrton, que não deixou passar a oportunidade de ouro quando Mansell abandonou por problemas de motor na volta 30, tornando-se assim o primeiro brasileiro a vencer em Mônaco.
Em uma dobradinha brasileira com Piquet no pódio, Senna demonstrava claros sinais de cansaço e quebrou totalmente o protocolo ao dar um banho de champagne na Família Real de Mônaco.
1988 – Um erro que entrou para a história
Agora pela McLaren, Ayrton Senna ainda não sabia, mas se encaminhava para o seu primeiro título mundial de Fórmula 1. Naquele ano, o brasileiro mostrou o quanto já dominava a pista em Monte Carlo, mas por um detalhe não pôde colocar Mônaco na lista de vitórias de sua glória em 1988.
Após cravar a pole position com uma fantástica margem de 1s427 sobre seu maior adversário e colega de equipe Alain Prost, Senna iniciou a corrida abrindo uma vantagem ainda mais consistente. No entanto, na volta 65, o brasileiro bateu sozinho na entrada do túnel e viu esvair de seus dedos o que seria uma das vitórias mais emblemáticas de sua carreira.
1989 – A redenção
Ainda com os “trauma” causado pelo ano anterior, o agora campeão mundial viu o roteiro se encaminhar de forma parecida durante o fim de semana em Mônaco, cravando a pole com mais uma grande margem: 1s148, novamente a frente de Prost.
Conquistando durante a corrida uma vantagem de mais de um minuto para o francês, Senna parecia se aproximar de uma vitória tranquila desta vez, mas os deuses do automobilismo reservavam algo inesperado.
A McLaren do brasileiro perdeu as 1ª e 2ª marchas, fazendo com que ele diminuísse o ritmo para manter no braço a sua vantagem, cruzando ainda assim a linha de chegada 52 segundos à frente Prost. Esta foi a segunda vitória de Senna no Circuit de Monaco.
1990 – Uma vitória em meio à pressão
Em 1990, Alain Prost, que agora estava na Ferrari, seguia sendo a pedra no sapato de Ayrton Senna e o brasileiro teve novamente de superar o francês para assegurar mais um pole position em Monte Carlo.
Na corrida, Prost viu seu carro quebrar, dando assim mais margem para uma vitória tranquila de seu rival. No entanto, como toda vitória de GP de Mônaco tinha de ser cinematográfica para Senna, sua McLaren MP4/5B começou a perder potência na reta final da prova.
A vantagem de 17 segundos do brasileiro sobre Alesi caiu para menos de 2 segundos em 5 voltas, mas Senna conseguiu segurar o italiano para garantir sua terceira vitória em sua melhor pista. Este seria também o ano do bicampeonato mundial de Ayrton.
1991 – A “tríplice” de Ayrton Senna em Mônaco
Já reconhecido como o “dono” de Mônaco, Ayrton Senna marcou sua quinta pole position em oito participações no tradicional GP europeu, concretizando sua vantagem durante toda a corrida no dia seguinte.
Mais uma vez a lenda brasileira teve de lidar com problemas em sua McLaren perto do fim da prova, agora referentes ao combustível. Mesmo tendo de diminuir o ritmo, o final da história era quase certo aquela altura e Senna venceu com 18 segundos de folga sobre Nigel Mansell.
Assim, o fantástico piloto conquistou sua quarta vitória em Monte Carlo, a terceira seguida. Além disto, o ano de 1991 reservava o tricampeonato mundial para Ayrton.
1992 – A vitória mais acirrada
Após algumas edições tendo basicamente de lutar mais contra si mesmo e seu carro do que seus adversários em Mônaco, Senna enfim teve um concorrente realmente à altura nas ruas de Monte Carlo em 1992.
Pela primeira vez desde quando havia chegado à McLaren, o brasileiro não largou da pole no circuito monegasco, ficando atrás de uma dominante Williams de Patrese e Mansell. Na corrida principal, Senna passou o italiano, mas sentiu na pele o que causou a Nigel no ano seguinte, chegando a ficar mais de 30 segundos atrás do britânico.
Apesar de também ser um nome lendário do automobilismo, Mansell não possuía com Mônaco a mesma relação que Senna e, ao se ver no lugar do brasileiro no roteiro, não conseguiu manter a liderança: perto do fim, seu carro se tornou um problema, assim como foi no passado com Ayrton.
A oito voltas do fim, o britânico optou por ir aos boxes para trocar os pneus que o atrapalhavam, deixando Senna assumir a primeira colocação. A partir dali, Senna entregou ao público presente no Principado uma verdadeira aula de direção defensiva, segurando Mansell mesmo com pneus gastos até cruzar a linha de chegada.
Com sua quarta vitória seguida, Senna acumulava então cinco triunfos em Mônaco, igualando os números de Graham Hill na tradicional pista de rua da Fórmula 1.
1993 – A última e marcante vitória de Senna em Monte Carlo
Ninguém sabia, mas esta seria a única oportunidade que Senna teria para superar os números de Hill e se tornar o novo e definitivo “Mr. Mônaco”. Um ano antes da trágica temporada de 1994, Senna ainda coria pela McLaren e teve de contar com a sorte no GP de Mônaco.
Assim como em 1992, Ayrton largou da terceira posição e viu Alain Prost e Michael Schumacher se distanciarem. O francês, que liderava a prova até então, foi punido com um stop-and-go por queimar a largada e, para concretizar seu fracasso naquele dia, sofreu um apagão em sua Williams durante a penalização.
Restava assim o futuro heptcampeão mundial à frente de Senna. Schumacher, no entanto, não resistiu muito ao “pacto” do brasileiro com Mônaco, e abandonou a prova após sua Benetton apresentar problemas hidráulicos.
Assim, Ayrton Senna foi quem ficou com a liderança, mantida até o fim da prova. Esta foi a vitória que lhe deu o até então imbatível recorde de seis vitórias na icônica corrida de rua monegasca, justamente no que viria a ser o seu último encontro com seu amado Grande Prêmio de Mônaco.