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História da Fórmula 1: Emerson Fittipaldi, Niki Lauda e os loucos anos 70

Década foi marcada por muitas tragédias em razão das incríveis mudanças tecnológicas que as equipes conseguiram atingir à época

Fórmula 1 nos anos 1970 era um esporte muito perigoso (Divulgação/FIA)

A década de 1970 marcou o início da globalização da Fórmula 1. Pela primeira vez na história, a competição se tornava algo realmente mundial. O principal motivo para tamanho sucesso era o surgimento de uma safra de pilotos brilhantes como Emerson Fittipaldi, Niki Lauda, James Hunt, Mario Andretti que chegava para brigar com medalhões como Jackie Stewart.

Esse cenário, combinado com as transmissões feitas pela BBC, as quais eram retransmitidas em vários outros países, levou a categoria a se tornar uma febre global. 

Surgimento de Emerson Fittipaldi na Fórmula 1

Emerson Fittipaldi tinha apenas 23 anos quando fez sua estreia na Fórmula 1 pilotando um Lotus. Na sua primeira temporada, o piloto fez história ao se tornar o primeiro brasileiro vencer uma corrida na categoria. Isso aconteceu no GP dos EUA em 4 de outubro de 1970.

Os anos 70 começam com um campeonato muito disputado. A vitória de Emerson Fittipaldi trouxe pontos cruciais para a Lotus, que acabou conquistando o Mundial de Construtores ao ultrapassar a Ferrari após o triunfo do brasileiro no Grande Prêmio dos Estados Unidos. 

Jochen Rindt, o campeão póstumo da Fórmula 1

Assim, em 1970, a Fórmula 1 também teve seu primeiro campeão póstumo. Jochen Rindt foi o vitorioso. O alemão naturalizado austríaco morreu após sofrer um acidente em Monza, Itália. Mesmo faltando quatro provas para o final do campeonato, a vantagem que ele possuía era tão grande que nenhum piloto conseguiu alcançá-lo nas provas finais. 

Muito agressivo ao volante, Rindt gostava de citar a famosa frase de Otto von Bismarck: “Nós, alemães, tememos a Deus e nada mais”. 

O ídolo de Rindt era Wolfgang von Trips, piloto alemão que morreu durante uma corrida em Monza, em 1961, após um acidente que matou 15 pessoas. Em uma coincidência trágica, Rindt também faleceu depois de sofrer um acidente durante os treinos livres exatamente na mesma pista

Gênios nas pistas

Depois dessa história trágica, o restante dos anos 1970 foi marcado pela disputa entre três dos maiores pilotos da história da Fórmula 1. O veterano Jackie Stewart, campeão em em 1971 e 1972; o brilhante jovem brasileiro Emerson Fittipaldi, vencedor dos títulos mundiais de 1972 e 1974; e o também espetacular Niki Lauda, que levou os mundiais de pilotos de 1975 e 1977.

Além desses três nomes, que hoje são verdadeiros mitos no mundo da Fórmula 1, o campeonato ainda contava com gênios como Mario Andretti, campeão em 1978, e James Hunt, campeão em 1976.

Por essa razão, muitos acreditam que a década de 1970 foi uma década dourada na história do automobilismo mundial. Com tantos talentos dividindo as pistas, não foi por acaso que o esporte se tornou uma verdadeira febre mundial. Com fãs espalhados por todo planeta acompanhando as disputas que essas feras do volante travavam nas pistas.

Os perigos dos anos 1970

Além da categoria dos pilotos, havia também os riscos. Paradoxalmente, com os carros cada vez mais velozes, a Fórmula 1 nos anos 1970 era um esporte muitíssimo perigoso. Nessa época, a FIA dava muita liberdade aos mecânicos e engenheiros, os quais faziam de tudo no que diz respeito às mudanças tecnológicas e que, por sua vez, foram capazes de produzir alguns dos modelos mais icônicos da história da categoria — a Tyrrell, por exemplo, criou um carro com seis rodas, o Tyrrell P34; enquanto a Brabham criou o BT46B, carro dotado de um gigantesco exaustor na traseira para gerar pressão negativa.

História do carro-ventilador da Brabham

No entanto, todos os avanços que os carros ganharam em potência não foram acompanhados por tecnologias capazes de proteger os pilotos. As equipes, preocupadas principalmente em tornar os carros mais potentes em razão da disputa pelos títulos de construtores e de pilotos, produziam veículos muito velozes, mas pouco seguros.

Na década de 1970, 12 pilotos da Fórmula 1 morreram durante os treinos ou nas disputas da categoria.

Fórmula 1 mais rápida e perigosa

Para se ter uma ideia do tamanho das mudanças, na década de 1950, a volta mais rápida, que deu a pole a Juan Manuel Fangio em Mônaco, foi de 1min50s200. Vinte anos depois, em 1970, Jackie Stewart conquistou a pole em Mônaco com o tempo de 1min24s000. Portanto, os dois campeões tinham uma diferença de mais de 26 segundos na mesma pista. 

Além disso havia a gigantesca diferença de peso entre os carros de hoje e daquela época. Hoje, na Fórmula 1, os carros precisam ter o peso mínimo de 798 kg. Boa parte desse peso vem das obrigatórias partes ligadas à proteção dos pilotos. 

Na década de 1970, tal preocupação simplesmente não existia. Por essa razão, carros como a Lotus 72, com o qual Jochen Rindt levou o título da Fórmula 1 em 1970, pesava apenas 540 kg. 

Quando o piloto, que era bem mais rápido que seus concorrentes, sofreu um acidente, o resultado foi catastrófico como já foi relatado acima. 

A disputa nos anos 1970 era tão maluca que nem mesmo o uso de capacetes era obrigatório — regra que só surgiu em 1981.

Falta de medidas de proteção

Além disso, a FIA não tinha nenhuma regra para proteger os pilotos de possíveis incêndios. Essa obrigatoriedade só passou a existir em 1975 — principalmente depois que Roger Williams morreu após seu carro pegar fogo no GP da Holanda de 1973.

Outra loucura que havia naquele tempo eram as paradas nos boxes, nas quais os pilotos saiam à toda velocidade e, muita vez, atropelavam alguém. Também praticamente não havia bandeira amarela, o que causava acidentes horríveis como o do GP da África do Sul em 1977.

Durante a corrida, porém, o carro de Tom Pryce pegou fogo. O piloto parou o carro e desesperado, em meio às chamas, tentava se livrar do incêndio. Nesse momento, o jovem fiscal de pista Frederic Jansen Van Vuuren, com apenas 19 anos, tentou atravessar a pista para levar um extintor para ajudar o piloto.

O rapaz acabou atropelado por um dos carros da prova e o extintor que ele levava atingiu Pryce na cabeça. Os dois morreram. Depois disso e de anos de muita luta de figuras como Jackie Stewart e Ayrton Senna, a FIA passou portanto a ser mais rigorosa com coisas como bandeiras amarelas, saídas dos boxes e acesso à pista.

Assim, a década de 1970, que certamente teve nas pistas dos GP de Fórmula 1, alguns dos mais espetaculares pilotos de sua história, também foi marcada por muita dor e muito sofrimento, os quais marcaram e transformaram para sempre a categoria.

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Renato Roschel

Escrito por Renato Roschel

Editor-chefe do Nas Pistas. Há mais de 30 anos com trabalhos nas áreas de jornalismo e produção de conteúdo. Já colaborou para jornais como Folha de S. Paulo e Valor Econômico. Foi correspondente da Rádio Eldorado em Londres, editor da Revista Osesp e é tradutor, revisor, organizador e autor de diversos livros, entre eles, Literatura Livre: ensaios sobre ficções que formaram o Brasil, obra publicada pelo Sesc em 2022.

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