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“Hoje não! Hoje sim!”. Relembre o polêmico GP da Áustria de 2002 na Fórmula 1

Corrida da Fórmula 1 ficou marcada por célebre narração de Cléber Machado na ultrapassagem de Schumacher a Rubinho antes da bandeirada

Michael Schumacher e Rubens Barrichello, Ferrari, Fórmula 1

Michael Schumacher e Rubens Barrichello no pódio do GP da Áustria de 2002 (Divulgação / F1)

“Hoje não! Hoje sim!”. Relembre o polêmico GP da Áustria de 2002 na Fórmula 1

Neste domingo (02) tem GP da Áustria de Fórmula 1. Assim, a largada no circuito Red Bull Ring está prevista para às 10h (horário de Brasília), com transmissão da Band. Toda vez em que o circo da principal categoria de automobilismo mundial chega à cidade austríaca de Spielberg, os aficionados se recordam da famosa narração de Cléber Machado de 12 de maio de 2002.

Na última curva antes da bandeirada, Rubens Barrichello dobrou na frente com Michael Schumacher fungando no cangote do brasileiro. A cena que se seguiria é conhecida por todos. Mas para situar o contexto do “hoje, não” do locutor da Globo, voltamos um pouco no tempo.

Anteriormente, no mesmo GP da Áustria mas do ano anterior, havia ocorrido uma situação similar, nem tão lembrada como a de 2002. Mas que seria uma prévia de uma das maiores marmeladas da história da Fórmula 1.

Na mesma etapa da Fórmula 1, Rubinho cedeu posição para Schumacher

Na etapa de 2001 do na época A1-Ring, David Coulthard dominou a prova com sua McLaren. Então, o escocês disputava com Schumacher a liderança do Mundial de Fórmula 1 daquela temporada. Embora o alemão tenha largado na pole, seria superado por Coulthard e também Barrichello. Dessa forma, visando a briga pelo título, a Ferrari ordenou que Rubinho deixasse Schumacher assumir a segunda colocação nos metros finais. O alemão seria campeão algumas corridas depois.

Diante deste episódio, se temia que a ação se repetisse. Como Michael Schumacher já estava disparado na liderança da temporada 2002 antes da largada do GP da Áustria, os amantes da Fórmula 1 acreditaram que a manobra do ano anterior não aconteceria. Pura ilusão!

Assim, Rubens Barrichello obteve a pole position marcando 1min08s082. Já o Schumacher que completou a primeira fila não foi Michael e sim Ralf, que superou o irmão mais velho com sua Williams, deixando a Ferrari do multicampeão na terceira posição do grid.

Rubinho dominou a maior parte da prova no antigo A1-Ring. Desse modo, liderou 69 das 71 voltas do GP da Áustria. Nos metros finais, as duas Ferraris despontaram juntas na última curva. O filme de 2001 se repetiria? Dessa vez valendo a vitória ao invés da inversão do terceiro para o segundo lugar na temporada anterior?

Na ocasião, Schumacher já tinha uma boa distância na liderança da temporada 2002 da Fórmula 1, somando 44 pontos, contra 23 do colombiano Juan Pablo Montoya e 20 de Ralf Schumacher. Rubens Barrichelllo só tinha seis pontos antes da corrida começar em Spielberg.

Diante da confortável vantagem de 21 pontos que Schumacher já possuía contra o segundo colocado , a Ferrari poderia fazer jus ao predomínio do brasileiro durante o fim-de-semana. Tanto no treino oficial quanto na corrida da qual naturalmente venceria de ponta a ponta.

“Não podem fazer isso comigo”, implorou Rubinho

Mas o pragmatismo da escuderia italiana falou mais alto e a famigerada ordem do diretor Ross Brawn já martelava nos ouvidos de Rubens Barrichello oito voltas antes da conclusão. Em entrevista concedida em 2017 para a F1 Racing, o engenheiro inglês se recordou das palavras de Rubinho. “Não! Não me façam fazer isso. Esta é a minha grande oportunidade de ganhar a corrida. Não podem fazer isso comigo”, teria dito o brasileiro, em ação no cockpit da Ferrari a mais de 200 km/h.

Mesmo que Barrichello tivesse freado logo após dobrar a última curva do circuito austríaco, Schumacher também chegou a tirar o pé nos metros finais. Entretanto, cruzou a linha de chegada na primeira colocação.

“Eles vão pra última curva, foi na última curva no ano passado. Hoje não, hoje não. Hoje sim… hoje sim. É inacreditável. Olha, inacreditável. Não há nenhuma necessidade da Ferrari fazer isso”, se indignou Cléber Machado, na narração mais famosa de sua carreira.

Certamente o telespectador que assistiu ao vivo o polêmico desfecho do GP da Áustria de Fórmula 1 de 2002 se lembra onde estava, de tão marcante que foi o momento. Aliás, por que foi Cleber Machado, e não Galvão Bueno como de praxe, quem narrou a corrida pela Globo? O titular da emissora estava escalado para transmitir a final do Torneio Rio São-Paulo, em sua última edição, entre Corinthians e São Paulo, vencida pelo Timão.

“Olha a vaia. Olha o sinal da torcida. É a imagem mais frustrante do esporte. O vitorioso do domingo é o Rubens Barrichello. Quem ganhou a corrida foi o Rubens Barrichello. A grande derrotada do domingo é a Ferrari”, protestou o hoje ex-narrador da Globo, atualmente no Prime Video.

Ross Brawn demonstrou arrependimento anos depois de uma das maiores marmeladas da história da Fórmula 1

Enquanto Cléber Machado reclamava, o próprio Michael Schumacher, diante das vaias e os sinais de negativo dos torcedores, fez questão de que o brasileiro subisse no degrau mais alto do pódio, enquanto o hino alemão começava a tocar na cerimônia do pódio. Certamente o ápice do constrangimento. Inclusive, Schumacher daria a Rubinho o troféu de primeiro lugar da corrida.

“Não tratamos a situação da melhor maneira e, se pudesse voltar atrás, não teria feito isso. Rubens não estava contente com o ocorrido e roubamos uma vitória que ele tinha conquistado. Depois da bandeirada, as coisas pioraram, porque Michael viu a reação do público, e isso fez com que ele colocasse Barrichello no primeiro lugar do pódio, além de que tivemos que pagar uma multa da FIA de um milhão de dólares”, admitiu Ross Brawn, durante a entrevista de 2017.

“Vomitei de raiva”, lembrou Rubens Barrichello

Em sua participação no Flow Podcast no ano passado, Rubens Barrichello confessou ter passado mal depois do polêmico GP da Áustria de Fórmula 1 de 2002. “Eu saí do carro e vomitei, de raiva. Porque não era possível”, lamentou o brasileiro. “Foram oito voltas de discussão. Eu poderia me queimar. Eu falei: eu vou fazer, mas vou fazer na frente (de todo mundo). (…) No momento em que eu vi que não iam mudar, (me tratar) do jeito que eu merecia, eu saí da equipe. Saí um ano antes do final do meu contrato”, desabafou Rubinho, que deixou a Ferrari no fim de 2005.

Diante da polêmica, a Fórmula 1 tornaria a comunicação entre a equipe e os pilotos pública a partir dali. Em entrevista para Pedro Bial no talk-show Conversa com Bial em 2018, Rubens Barrichello falou do legado deixado na principal categoria do automobilismo. “Quando falo de orgulho, quero dizer que mudaram as regras da F1 por causa daquele dia. Hoje em dia, você ouve em casa o que o piloto está falando. Nesse dia, se tivesse ouvido, teria sentido nojo”, declarou o ex-piloto da Ferrari.

Michael Schumacher ganharia o quinto título dos sete que conquistou na Fórmula 1 em 2002. O circuito de A1-Ring receberia o GP da Áustria até o ano seguinte, em 2003, quando foi desmanchado e reconstruído, sendo rebatizado de Red Bull Ring, mas mantendo o traçado original. Assim, a corrida em solo austríaco deixou de constar na programação da categoria entre 2004 e 2013, regressando em 2014.

Escrito por Marco Andrews Felgueiras Maciel

Jornalista formado pela PUCRS em 2007 e pós-graduado em Imprensa Esportiva e Assessoria de Comunicação pela Universidade Castelo Branco. Atuei na web-rádio Voz do Futebol e escrevo para o Torcedores.com desde 2022, além de colaborar para o site Nas Pistas a partir de 2023. Também edito o SAMBARIO, voltado para carnaval e sambas-enredo, desde 2004. No canal do YouTube do portal (@sambariosite), entrevistamos mais de uma centena de personalidades do samba e do carnaval nos tempos da pandemia. Ainda fui redator e assessor de imprensa da ALAP (Associação Latino-Americana de Publicidade).

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