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A história de Jules Bianchi e o último acidente fatal na Fórmula 1

Francês se chocou com um trator e se tornou o último piloto a falecer por um acidente de F1

O carro de Jules Bianchi se chocou com um trator (Reprodução / YouTube)

Em 5 de outubro de 2014, Jules Bianchi sofreu um grave acidente no circuito de Suzuka, no Japão, ao colidir com um trator que estava removendo o carro de outro piloto. O impacto resultou assim em uma colisão direta da cabeça de Bianchi com o trator, deixando-o em coma por oito meses.

Infelizmente, ele veio a falecer no ano seguinte devido a lesões cerebrais decorrentes do acidente. Esse foi o triste “evento canônico” que escancarou a urgência da criação de algo que impedisse maiores danos à cabeça de pilotos de Fórmula 1 além de seus capacetes.

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Em 2018, a FIA implementou o halo, uma peça feita de titânio para resistir a impactos de até 12 toneladas, sendo essa então uma medida implementada para aumentar a segurança na F1, em resposta ao acidente fatal de Bianchi quatro anos antes.

O Naspistas traz um pouco mais da história do automobilista francês e do acidente responsável pela última fatalidade na categoria mais popular do automobilismo até o momento.

Halo do RB20, Red Bull, Fórmula 1
Halo do RB20, novo carro da Red Bull para 2024 (Reprodução / Oracle Red Bull)

Uma promessa do automobilismo

Nascido em Nice, na França, no dia 3 de agosto de 1989, Jules Bianchi foi mais um automobilista a iniciar sua carreira ainda na infância com os karts. Nas categorias de base, ele foi um grande destaque, acumulando assim conquistas em importantes competições do kartismo europeu.

A carreira de Bianchi nos monopostos começou em 2007, competindo na Fórmula Renault 2.0 Eurocup. No mesmo ano, ele conquistou o título do Campionnat de France.

Em 2008, Jules estreou pela ART Grand Prix na Fórmula 3, conquistando a vitória no GP de Zolder. Seu sucesso continuou na Fórmula 3 Euro Series, onde seus bons resultados culminaram na terceira posição no campeonato de pilotos.

Não demorou muito para que o jovem francês fosse notado pelas grandes equipes de Fórmula 1, entre elas a Ferrari. Em 2009, Jules conquistou uma posição de destaque na Ferrari Driver Academy. Com sua carreira gerenciada por Nicolas Todt, renomado empresário de pilotos como o brasileiro Felipe Massa e o monegasco Charles Leclerc, Bianchi finalmente teve a oportunidade de ter seu primeiro contato com um carro de Fórmula 1, durante testes com a Ferrari F60.

Jules Bianchi (Reprodução / X – @F1)

A partir daí, enquanto Jules prestava serviços de testes para a Ferrari, também competia de forma integral e com extremo destaque nas Fórmulas 3 e 2. Ele também chegou a testar carros da extinta Force India antes de enfim receber sua primeira chance oficial na Fórmula 1.

O início da trajetória na Fórmula 1

Tido como uma das principais promessas do automobilismo mundial, Jules Bianchi não possuía a experiência necessária para assumir um assento na Ferrari. Ainda sobre os cuidados da Scuderia, ele foi cedido à Marussia para correr pela Fórmula 1 a partir de 2013, então com 23 anos.

Em sua primeira temporada pela categoria máxima do automobilismo, Jules competiu em dezenove corridas, mas não teve oportunidade de pontuar. Ele terminou o campeonato em 19º lugar, entre 23 pilotos, com seu melhor resultado sendo um 13º lugar em Sepang. Apesar de brigar na parte final do grid, Bianchi demonstrou superioridade em relação ao seu companheiro de equipe, Max Chilton, que terminou a temporada na 23ª e última colocação no Mundial de Pilotos daquele ano.

Considerado naquele momento um possível futuro substituto de Kimi Räikkönen na Ferrari, Jules se manteve na Marussia e a equipe começou a temporada de 2014 sem demonstrar grande evolução, brigando pelas últimas posições e tendo de lidar com abandonos. No entanto, um momento de ascensão surgiu durante o fim de semana do Grande Prêmio de Mônaco daquela temporada.

O surpreendente Jules Bianchi em Mônaco

Justamente em um dos mais temidos e impressionantes circuitos da história da Fórmula 1, Jules Bianchi surpreendeu o mundo e conquistou seus primeiros pontos pela categoria. No GP de Mônaco de 2014, o francês demonstrou uma condução espetacular, tirando o máximo de seu limitado carro e alcançando o limite extremo de suas habilidades.

Um momento de destaque foi a ultrapassagem emocionante na La Rascasse sobre Kamui Kobayashi e sua Caterham. Durante a corrida, Jules recebeu uma penalidade de 5 segundos adicionais devido a uma parada incorreta no grid de largada. Isso o obrigou então a acelerar o ritmo para abrir uma vantagem superior à penalidade sobre o carro de seu compatriota Romain Grosjean.

Após uma quase colisão entre Raikkonen e Magnussen no Grand Hotel, Bianchi os ultrapassou e conseguiu terminar a corrida em 8º lugar. No entanto, como não conseguiu abrir a diferença de 5 segundos para Grosjean, sua posição final foi o 9º lugar.

Esse resultado concedeu à Marussia seus primeiros e únicos 2 pontos em sua história, marcando também os primeiros pontos de uma das consideradas “novas equipes nanicas” da era moderna da Fórmula 1. Esses também foram, infelizmente, os únicos pontos alcançados por Bianchi em sua curta passagem pela categoria.

Uma tragédia anunciada em Suzuka

Como de costume, a temporada pós-Mônaco seguia sendo difícil para a Marussia e a briga por mais pontos era distante para Bianchi e Chilton. O melhor resultado do francês após o P9 em terras monegascas foi um 14º lugar em Silverstone.

Chegamos então na trágica 15ª corrida da temporada, em Suzuka, no Japão. O clima estava muito tenso devido à iminente chegada do tufão Phafone ao país asiático, causando estragos e problemas ao longo da costa asiática. Ventos de 130 km/h e chuvas intensas marcaram o domingo do Grande Prêmio, que, após bastante discussão, não foi cancelado apesar dos riscos.

A largada foi então mantida com o Safety Car liderando o pelotão. No entanto, logo na terceira das 53 voltas previstas, uma bandeira vermelha foi rapidamente agitada, interrompendo a corrida.

Após o retorno da prova, apenas após a 10ª volta foi dada bandeira verde para ultrapassagens, mesmo com os relatos de baixa visibilidade vindo dos pilotos.

O momento da colisão

Na volta 42, Adrian Sutil rodou com sua Sauber C33 e fez um contato leve com a barreira de pneus na curva Dunlop. Como resultado, o trecho foi imediatamente sinalizado com bandeiras amarelas duplas, indicando aos pilotos a necessidade de cautela devido à aquaplanagem no setor. Ainda assim, a direção de prova optou por não acionar a bandeira vermelha, seguindo com a prova.

Pouco tempo depois, Jules Bianchi não completou sua volta e não respondeu mais pelo rádio. Após um angustiante período de incerteza, foi constatado que o jovem francês havia se acidentado na mesma curva que Sutil.

O socorro foi iniciado três minutos após o choque de Bianchi com o trator grua que estava removendo o carro de Sutil da pista. A corrida foi então colocada sobre bandeira vermelha nove minutos após o choque, e em seguida a direção de prova informou que a corrida não seria retomada.

Durante a transmissão, devido à baixa visibilidade do circuito, não foi possível captar o acidente de Bianchi. No entanto, imagens de cinegrafistas amadores que estavam presentes em Suzuka mostram o momento da forte colisão do carro com o trator.

ATENÇÃO: IMAGENS FORTES!

Momento do acidente de Jules Bianchi, em 2014 (Reprodução / YouTube)

O mundo se despede do jovem piloto

Jules foi levado ao Hospital de Mie de ambulância, já que o helicóptero não pôde decolar devido às condições climáticas adversas. A viagem foi de 17 km por terra.

As conclusões da investigação da FIA sobre o acidente indicaram que o francês não reduziu o suficiente sua velocidade ao passar pelo setor onde estavam sendo exibidas bandeiras amarelas. Isso foi evidenciado pelo fato de que ele perdeu o controle de seu carro a 213 km/h, 2.6 segundos antes do impacto. Essa conclusão, no entanto, revoltou a família Bianchi, que constatou uma possível tentativa da organização em culpar Jules por seu acidente, iniciando assim uma briga na justiça.

Em estado de coma após o acidente, o piloto passou por diversas cirurgias no Japão antes de enfim ser transferido para sua terra natal, em novembro de 2014. Jules Lucien André Bianchi foi declarado morto em 17 de Julho de 2015.

Alguns pilotos compareceram ao enterro do jovem francês e carregaram seu caixão. Na corrida seguinte, na Hungria, os pilotos se reuniram para fazer orações juntos e dedicar um minuto de silêncio ao redor dos capacetes de Jules e dos demais pilotos do então grid vigente. O pai do francês também esteve presente, levando o capacete de seu filho à homenagem.

Homenagem a Jules Bianchi em 2015 (Divulgação / ge.globo.com)

O legado de Jules Bianchi

Essa foi a primeira morte provocada por um acidente durante um fim de semana de Fórmula 1 desde Ayrton Senna, em 1º de maio de 1994. Até o momento da divulgação desta matéria, também trata-se da última morte de um piloto da categoria decorrente de uma tragédia nas pistas.

Além da implementação quase que imediata do Safety Car Virtual, o halo chegou cerca de três anos após a morte de Bianchi. Apesar de não ser possível afirmar que o piloto francês seria salvo por ele, sua adição evitou que inúmeros acidentes pudessem ter resultados trágicos desde então.

A Fórmula 1 segue aprendendo com os erros em sua história e esperamos que novas tragédias não sejam necessárias para evitar acidentes futuros.

Escrito por Mateus Pereira

Colaborador do Naspistas desde 2023, nasci no estado do Rio de Janeiro e alinho minha maior paixão à minha vocação através da produção de conteúdo sobre esportes. Entre as minhas áreas de maior domínio e experiência profissional estão o automobilismo, o futebol e o universo geek.
Certificado como Jornalista Digital e Social Media pela Academia do Jornalista, contribui no passado como Colunista, Editor-chefe e Líder da editoria de Esportes nos portais R7 Lorena e iG In Magazine.

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