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“Emerson vai ganhar”: relembre histórica vitória de Fittipaldi nas 500 Milhas de Indianápolis de 1989

Primeiro triunfo de um piloto brasileiro nas 500 Milhas de Indianápolis foi eternizado em épica narração do saudoso Luciano do Valle

Divulgação/Twitter/Fórmula Indy Oficial

“Bateu Al Unser. Emerson vai ganhar. Emerson vai ganhar. O Brasil ganhou”. Numa das maiores narrações da história das transmissões esportivas no Brasil, Luciano do Valle tornava ainda maior o feito de Emerson Fittipaldi naquela edição das 500 Milhas de Indianápolis. Quem acompanhou ao vivo toda a emoção passada pelo eterno Bolacha, assistiu o VT na Band ou até pelo YouTube a qualquer hora, tem dificuldades em segurar as lágrimas.

A perseguição do Penske de Emerson ao então líder Al Unser Jr na lendária pista oval de Indianápolis ganhou um tom épico na saudosa voz de Luciano do Valle: “Vai que ‘cê’ passa. Agora. É o Brasil! Vamos lá! Força mais um pouquinho”. Faltando apenas duas voltas de 200, o Lola do piloto norte-americano não resistiria à pressão do brasileiro e bateria no paredão. O que geraria a célebre descrição frenética do narrador naquele 28 de maio de 1989, dentro do icônico “Show do Esporte” da Bandeirantes.

O bicampeão mundial de Fórmula 1 viveria a sua temporada mais gloriosa na Fórmula Indy. Já veterano, com 42 anos, Emerson Fittipaldi havia estreado na categoria cinco anos antes. Então, o consagrado piloto ajudaria os brasileiros a desbravarem um circo de automobilismo tão identificado com os Estados Unidos.

Nunca um brasileiro havia ganho as 500 Milhas de Indianápolis

A primeira edição das 500 Milhas de Indianápolis ocorreu no longínquo 1911. Até aquela histórica tarde, jamais um brasileiro havia triunfado no mítico circuito Indianapolis Motor Speedway. Assim, uma espera de 78 anos se encerrava naquela inesquecível perseguição de Emerson Fittipaldi a Al Unser Jr.

Das 200 voltas da corrida, Emerson Fittipaldi liderou 158. Além disso, Michael Andretti ficou 35 voltas na frente, até falhar o motor. Faltando somente cinco para o fim, Al Unser Jr fez a ultrapassagem em Emerson, que estava com o carro mais pesado devido a um reabastecimento exagerado na reta final.

“Al, filho do campeoníssimo Unser sênior, era uma parada difícil. Criado e educado para a Indy, sempre foi um competidor duro. Não dava refresco, fechava a porta sem cerimônia e atropelava com naturalidade”, escreveu o jornalista Lemyr Martins, no livro “A Saga dos Fittipaldi”.

Como um bom brasileiro que não desiste nunca, o piloto do Penske iniciou a perseguição ao norte-americano. Este seria prejudicado por três retardatários, que fizeram Fittipaldi se aproximar do Lola de Al Unser Jr, na penúltima volta.

“Os dois carros entraram juntos na curva. O Lola, por fora, já ia pulando à frente, quando o afoito e desesperado Unser Jr cometeu seu maior erro. Ao buscar a tangência, imaginou talvez que Emerson se intimidaria com a manobra. A roda traseira do carro do americano bateu no pneu dianteiro do Penske de Emerson. Unser perdeu o controle e bateu no muro de proteção. O caminho estava aberto para o ex-campeão”, descreveu a revista Placar, de 2 de junho de 1989.

Um duelo a 350 km/h

Na curva 3 do circuito oval de Indianápolis, Emerson Fittipaldi fez uma manobra arrojada. Ao tentar passar por dentro, os carros se tocaram, a 350 km/h. Enquanto o norte-americano se chocava no paredão, Fittipaldi conseguiu se manter na pista. Assim, a corrida foi encerrada com a bandeira amarela.

Aliás, o que é pouco lembrado naquela histórica edição das 500 Milhas de Indianápolis é a excelente terceira colocação obtida por Raul Boesel. Emerson Fittipaldi ganharia a tradicional corrida novamente quatro anos depois, em 1993, superando Nigel Mansell, então campeão mundial de Fórmula 1 que estreava na Indy na ocasião. O Leão, que seria campeão da categoria naquela temporada, finalizaria a prova em terceiro.

O testemunho de Emerson Fittipaldi da épica vitória nas 500 Milhas de Indianápolis de 1989

Ao jornalista Lemyr Martins em “A Saga dos Fittipaldi”, Emerson relatou a histórica perseguição contra Al Unser Jr que resultou na batida do norte-americano e na épica vitória em Indianápolis. “Estávamos absolutamente emparelhados. Virei para o Al, olhei-o nos olhos, ele também me encarou, nos desafiamos, desviamos o olhar e fizemos o lógico: metemos o pé no fundo”, contou.

Emerson Fittipaldi não estava disposto a ceder, embora não tenha tomado corretamente a curva seguinte, mas também não aliviou o pé. Estava decidido a vencer. “Sabia que meu adversário também não abriria mão da vitória e fiquei alerta às manobras dele. Não demorou nada, Al Jr – que corria por fora – enveredou para o meu lado na tentativa de me bloquear. Se eu cedesse, ia parar na grama… e fim de corrida. Ignorei o ataque e fomos para a curva a 370 km/h, na verdade sabendo que dali só sobraria um”, relatou.

“Senti um alívio quando vi as bandeiras amarelas”

O então piloto do Penske seguiu descrevendo o duelo épico e como foi o choque com o concorrente do Lola. “Meu carro deslizou, senti um toque, olhei no retrovisor e vi que o Al Jr tinha ficado para trás, no meio de uma fumaceira; deduzi: ele bateu. Foi difícil controlar o carro, a traseira parecia que ia se desprender. Consegui com muito custo segurar o Penske na pista e senti um alivio quando vi as bandeiras amarelas – de manter posições – agitadas. Faltava uma volta e senti que ninguém mais me tiraria a vitória”, celebrou.

Por fim, Lemyr Martins recordou da felicidade e alívio de Emerson Fittipaldi ao ver Al Unser Jr são e salvo, abanando para o brasileiro da mureta da pista. Desse modo, citou uma frase do homem que fez o Brasil comemorar pela primeira vez um título mundial na Fórmula 1 e sendo pioneiro no país também nas 500 Milhas de Indianápolis: “Se eu morresse amanhã, morreria feliz”.

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