Até onde chega de fato uma rivalidade entre Brasil e Argentina no esporte? Juan Manuel Fangio simboliza uma relação interessante entre os dois países no automobilismo.
Seguindo a lógica, podemos afirmar que até mesmo os maiores ídolos já tiveram a quem se inspirar no passado. Assim, com Ayrton Senna, principal nome do automobilismo brasileiro, obviamente não foi diferente. Além da fortíssima amizade que alimentaram, Senna sempre enxergou em Juan Manuel Fangio alguém para idolatrar.
Hoje o Naspistas se inspira em uma publicação do perfil @formulalau, no X – antigo Twitter – e traz destaque ao mais ilustre ídolo e fã de Ayrton Senna.
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Esporte europeu, heróis sul-americanos
Se o automobilismo teve sua origem no Velho Continente, podemos afirmar que muitos de seus grandes nomes vieram das Américas. Entre os diversos pilotos possíveis a serem citados, Juan Manuel Fangio é um dos mais extraordinários.
Pentacampeão de Fórmula 1, durante incríveis 45 anos, o argentino foi o detentor do recorde de maior campeão da categoria. Ídolo não apenas de Senna, Fangio se concretizou como uma figura pra lá de extraordinária para a história da categoria e das quatro equipes por onde conquistou seus títulos mundiais: Alfa Romeo, Mercedes, Maserati e Ferrari.
A infância e o início no automobilismo
Nascido em Buenos Aires no dia 24 de junho de 1911, Juan Manuel Fangio, segundo informações da Wikipédia, abandonou seus estudos ainda criança para se dedicar a mecânica, alimentando assim uma paixão pelos carros e, posteriormente, pelo automobilismo.
Em 1938, Fangio fez sua estreia na categoria argentina Turismo Carretera, competindo com um Ford V8. Em 1940, o automobilista argentino mudou para um Chevrolet, conquistando assim o Grand Prix International Championship na época.
Ele então se dedicou ao Turismo Carretera, tornando-se campeão da categoria argentina, título que defendeu com sucesso no ano seguinte. Em seguida, Fangio optou então por se mudar para a Europa, em busca de maior sucesso no automobilismo mundial.
Sua marca na Fórmula 1
O argentino logo recebeu a oportunidade de se destacar na Fórmula 1, onde se tornou o único piloto até o momento a conquistar o Mundial por quatro escuderias diferentes.
Entre 1950 e 1958, foram 51 Grande Prêmios disputados por Fangio, acumulando 24 vitórias, 29 pole positions e 23 recordes de volta, além de seus cinco títulos nas temporadas de 1951, 1954, 1955, 1956 e 1957.
No auge de seu desempenho, a lenda argentina optou por encerrar sua carreira ainda em 1958, por enxergar que o fim da “Era Romântica da Fórmula Um” estava próximo, devido à chegada de grandes investidores.
“Eu estava em Reims (em 1958), treinando para o Grande Prêmio da França, quando senti que o carro estava muito instável, o que me chamou a atenção porque a grande virtude da Maserati 250F era sua estabilidade. Então cheguei ao box e perguntei ao chefe de equipe o que se passava; ele me respondeu:- Trocamos os amortecedores! – Mas porquê?, perguntei. – Porque esses nos pagam! – Assim, naquele momento, tomei a decisão de encerrar minha carreira. E não me arrependo disso!“; explicou posteriormente Juan Manuel Fangio, segundo relato presente na Wikipédia.
A relação com Ayrton Senna
Segundo a pesquisa do perfil @formulalau, o primeiro encontro de Senna com seu ídolo foi em 1984, em Nürburgring, na Alemanha. Na época, o brasileiro ainda era um novato na Fórmula 1, mas já acumulava atuações notáveis.
Apesar de sequer terminar aquela corrida, Ayrton foi elogiado por Juan Manuel Fangio, que lhe disse: “agora vi porque falam tão bem de você“. A partir de então, surgiu uma grande amizade entre as duas lendas sul-americanas, fazendo com que o argentino nutrisse a imagem mútua de Senna como um de seus ídolos, elogiando-o publicamente sempre que possível.
Em meio à relação de cumplicidade, tornou-se natural vê-los juntos nos bastidores da Fórmula 1, com Fangio atuando como uma espécie de “mestre” de Senna. Segundo relatos de uma sobrinha do argentino para o El Gráfico em 2011, seu tio costumava contar sobre seus próprios erros para que Ayrton parasse de se cobrar tanto, além de agir como um excelente conselheiro.
Ao longo dos anos, durante suas diversas conversas com Senna, Fangio fez dois pedidos importantes para a carreira do brasileiro: que ele evitasse ler os jornais e que considerasse parar de correr em breve. Em resposta, Ayrton convidou Juan para uma futura festa de seu próprio pentacampeonato – que, segundo seus planos, ocorreria no final de 1995.
O baque da morte de Senna
Ayrton Senna, muito por conta de sua amizade e admiração por Juan Manuel Fangio, nutriu sentimentos muito fortes pela Argentina, alimentando assim um laço significativo com os fãs de automobilismo no país que perdura até os dias atuais.
Sua morte, em 1994, gerou também grande comoção no país vizinho, com Fangio sendo uma das figuras mais lembradas no momento, por conta da forte relação com o brasileiro. Para a lenda argentina, a perda de seu grande amigo gerou uma dor irreparável e afetou até mesmo sua saúde.
Apesar de na época do trágico acidente de Senna o argentino já possuir complicações em sua saúde por conta de sua idade avançada – 83 anos -, ele era muito ativo. Segundo sua sobrinha, o pentacampeão acordava cedo, tomava mate e dirigia diariamente seu carro até a filial da Mercedes, dispensando a direção de seu motorista particular.
Foi então que no primeiro dia de maio em 1994, em frente à sua televisão, que Fangio assistiu o forte choque de seu amigo com o muro da Tamburello no GP de San Marino. Para evitar uma piora no quadro de sua saúde, sua família insistiu de forma vã em esconder a morte de Senna, mas a trágica notícia logo chegou aos seus ouvidos.
Na noite da segunda-feira após a morte de Ayrton, em uma entrevista, Juan declarou: “Morreu meu sucessor”. A lenda argentina, então, não voltou a assistir a um Grande Prêmio de Fórmula 1 desde então. Segundo relatos de sua família, Fangio também nunca mais foi o mesmo após o triste ocorrido.
Juan Manuel Fangio faleceu um pouco mais de um ano depois, em 17 de julho de 1995, aos 84 anos, vítima de insuficiência crônica renal. Para a eternidade, fica o seu espetacular legado dentro e fora das pistas da Fórmula 1, assim como seu ídolo, fã e grande amigo Ayrton Senna.