Mateus Pereira
Ao falarmos do triste fim de semana de 1 de maio de 1994, rapidamente a morte do icônico piloto brasileiro Ayrton Senna toma nossas mentes. No entanto, outros dois acidentes também marcaram aqueles dias, mas foram rapidamente “esquecidos” com o passar do tempo, incluindo até mesmo a morte de mais um automobilista.
Na sexta-feira, 29 de abril, Rubens Barrichello preocupou a Fórmula 1 ao protagonizar um terrível acidente durante os treinos para o GP de Ímola. O brasileiro, que estava apenas em seu segundo ano pela categoria, sobreviveu mesmo após sua Jordan literalmente voar na pista e se chocar com o guard rail.
Segundo relatos da época, chocado ao testemunhar o acidente de Rubinho, Ayrton Senna pulou o muro e correu até o empresário Geraldo Rodrigues para conferir o estado do compatriota. O tricampeão mundial encontrou Barrichello machucado, porém consciente.
No sábado, um dia antes da morte de Senna, Roland Ratzenberger infelizmente não teve a mesma sorte de Barrichello. O austríaco perdeu o controle de seu carro e se chocou fortemente com o guard rail. Mais tarde, a organização do evento anunciou sua morte, originando assim uma polêmica em torno da realização daquele Grande Prêmio de San Marino, em Ímola.
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A história de Roland Ratzenberger
Nascido em 4 de julho de 1960, em Salzburgo, Roland Ratzenberger deu seus primeiros passos no automobilismo em 1983, na Fórmula Ford Alemã. Dois anos mais tarde, ele conquistou os campeonatos austríaco e da Europa Central na categoria.
Em 1986, Ratzenberger mudou-se para a Inglaterra, onde ingressou na Fórmula 3. No entanto, seus resultados na categoria não foram extraordinários, fazendo com que ele migrasse para as categorias de turismo e protótipos.
O austríaco só conseguiu obter a oportunidade de ingressar na Fórmula 3000 – que concedia pilotos à Fórmula 1 na época – após uma boa passagem pela Fórmula Nippon, um campeonato de monopostos japonês, hoje mais conhecido como Super Fórmula. A partir daí, o piloto, que sempre teve dificuldades para financiar seu sonho, passou a guardar dinheiro para ingressar futuramente na F1.
Em 1994, Roland Ratzenberger finalmente alcançou seu objetivo de chegar à badalada Fórmula 1. Após realizar, ironicamente, um bom teste em Ímola, o austríaco recebeu o convite para correr ao lado de David Brabham na recém-formada equipe Simtek. Apesar das limitações financeiras da escuderia, Roland assinou um contrato de cinco corridas, o que lhe custou todas as economias que possuía.
Em Interlagos, Roland não conseguiu se classificar para o grid de largada, mas em Aida, no Japão, fez uma boa corrida dentro das possibilidades do carro e terminou em 11º lugar. Uma curiosidade é que, segundo informações da época, uma clausula contratual impedia que ele batesse seu carro ou não faria mais parte do grid pela Simtek.
O triste sábado de 30 de abril de 1994
A terceira corrida da temporada de 1994 ocorreu no veloz e perigoso autódromo de Ímola, na Itália. No sábado, dia 30 de abril, Roland Ratzenberger participava do treino classificatório, já um dia após o acidente de Rubens Barrichello.
Quando chegou à rápida curva Villeneuve, a asa dianteira do carro de Ratzenberger entrou em colapso a aproximadamente 300 km/h. O austríaco não teve qualquer chance de reação, resultando em um impacto violento contra o muro e uma cena aterrorizante de seu carro sendo arrastado por metros do circuito. Infelizmente, as lesões cerebrais provocadas pelo acidente foram fatais.
Ratzenberger sofreu múltiplas fraturas no crânio e no pescoço. Logo após o acidente, uma tentativa de reanimação cardíaca foi realizada na própria pista. Apesar de ter deixado o autódromo de Ímola já desacordado, sua morte foi constatada apenas mais tarde, oito minutos após sua entrada no Hospital Maggiore de Bolonha.
O choque de Ayrton Senna
Imediatamente, o momento do acidente gerou comoção entre os fãs e todos os envolvidos com a Fórmula 1. Ayrton Senna se demonstrou fortemente chocado com o triste ocorrido com seu companheiro de profissão e liderou um pedido para que não houvesse corrida no dia seguinte, em respeito à morte do austríaco.
Confira então abaixo o momento do trágico acidente de Roland Ratzenberger, além de registros das reações de Ayrton Senna.
ATENÇÃO: IMAGENS FORTES!
Apesar dos apelos de Senna e outros envolvidos na categoria para a não realização da prova no domingo, houve toda uma movimentação para que o tradicional evento ocorresse. Após o acidente de Ratzenberger, sua própria equipe, a Simtek, anunciou que não se retiraria da corrida, afirmando que Roland gostaria que seu companheiro de equipe, David Brabham, participasse da corrida.
O polêmico e trágico GP de Ímola
Segundo informações contidas na Wikipédia, as investigações do acidente com o piloto austríaco geraram grande controvérsia. Os organizadores da corrida e a FIA alegaram que Ratzenberger chegou ainda com vida em Bolonha, enquanto os investigadores afirmam que ele teve morte instantânea ou, no mínimo, ainda dentro do circuito de Ímola.
Segundo as leis italianas da época, se um atleta morresse durante um evento esportivo, o mesmo deveria ser cancelado e todo o complexo esportivo – no caso o circuito de Ímola – deveria ser colocado à disposição dos peritos até o fim da investigação, que poderia durar meses ou até mesmo anos. Dessa forma, o Grande Prêmio de Ímola não deveria ocorrer, evitando assim a morte de Ayrton Senna durante a prova.
No entanto, as autoridades afirmam que tanto a FIA quanto a organização do Grande Prêmio tentaram retardar o anúncio da morte de Ratzenberger para evitar o cancelamento do evento e o consequente prejuízo financeiro que isso geraria. No dia seguinte, o acidente que tirou a vida de Senna recebeu o mesmo tratamento.
ATENÇÃO: IMAGENS FORTES!
Ayrton Senna faria homenagem a Roland Ratzenberger
Segundo informações de pessoas próximas ao piloto e relatos a documentários, Senna passou algumas de suas últimas horas de vida triste e inconformado pelo fato de ainda ter de correr no domingo, mesmo após a morte de um piloto naquele mesmo circuito.
Sabendo que largaria na pole, o brasileiro comprou então uma bandeira da Áustria para erguer em homenagem a Ratzenberger, caso conseguisse alcançar o pódio em Ímola, o que infelizmente não foi possível por conta de sua morte no melancólico domingo de 1 de maio de 1994.
Com o passar do tempo, a morte de Roland Ratzenberger foi ofuscada pela de Ayrton Senna no dia seguinte, tornando cada vez mais raras as lembranças sobre a trajetória e carreira do austríaco que perdeu sua vida enquanto realizava o tão almejado sonho de chegar à Fórmula 1.
