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Rei de Mônaco: relembre as vitórias de Ayrton Senna no lendário circuito

Ninguém venceu mais vezes o GP de Mônaco do que Ayrton Senna, que recebeu a bandeirada seis vezes em Monte Carlo

Divulgação

Neste domingo (28), as ruas de Monte Carlo receberão a mais charmosa das provas da Fórmula 1. Assim, o GP de Mônaco ocorrerá, como já é de praxe, no último fim-de-semana de maio. A tradicionalíssima corrida não só é aguardada pelos amantes do automobilismo, como também traz uma carinhosa memória afetiva dos torcedores brasileiros. Afinal, ninguém mais dominou o difícil e estreito traçado das ruas de Mônaco do que Ayrton Senna da Silva.

O brasileiro venceu seis edições do Grande Prêmio (1987, 1989, 1990, 1991, 1992 e 1993), pilotando em cinco delas a sua icônica McLaren. A realeza monegasca sofria com os banhos de champanhe de Senna no pódio. Até as ocasiões em que não ganhou se tornaram memoráveis. Aliás, foi no Principado em que chamou a atenção pela primeira vez na Fórmula 1.

Pela inexpressiva Toleman, Ayrton Senna mostraria em Mônaco, em sua primeira temporada na Fórmula 1, seu cartão-de-visitas para o mundo. Num desempenho antológico, o novato se atreveria, naquela edição de 1984 da corrida, a ultrapassar nomes como o veterano Niki Lauda. Mas o temporal que desabou sob Monte Carlo fez Alain Prost, o líder da prova, a pedir a suspensão da corrida no instante em que Senna diminuía a distância a cada parcial.

Ficou para a história a cena em que Alain Prost estaciona a sua McLaren, enquanto a Toleman de Ayrton Senna passa ao seu lado a toda velocidade, levantando água por todo os cantos. Mas o GP de Mônaco já havia sido interrompido, com a vitória sendo dada ao francês e o brasileiro se classificando em segundo. Com a paralisação da corrida na 31ª volta de um total de 78, os pilotos somaram a metade dos pontos, algo que faria falta para Prost no fim daquela temporada de 1984, conquistada por Lauda.

Chandon nos vestidos das princesas

A primeira vitória viria três anos depois, já pilotando a Lotus. E com direito à dobradinha brasileira naquele domingo de 1987. Largando em segundo, Senna pressionou Nigel Mansell por 29 voltas até ultrapassar o Leão e sustentar a liderança sem sustos. Então, recebeu a bandeira quadriculada, com o segundo colocado Nelson Piquet cruzando a linha de chegada apenas 33 segundos depois, tamanha a supremacia do piloto da Lotus em Monte Carlo. Aliás, Piquet conquistaria seu último título naquele ano.

A empolgação com o triunfo, um feito inédito de um brasileiro até então, foi tamanha que, no pódio, aconteceu o memorável banho de champanhe na Família Real de Mônaco. “Contentou-se em batizar de Moet et Chandon os vestidos de milhares de dólares das princesas Stéphanie e Caroline, e o impecável terno cinza-pérola do príncipe Rainier, numa idiossincrasia nunca registrada num pódio de Fórmula 1″, escreveu o jornalista Lemyr Martins, no livro Uma Estrela chamada Senna.

“Sair no braço, apoiar-se na canhota e não errar”, sempre projetava Ayrton Senna. Se aproveitando da condição de canhoto e do circuito com ruelas de apenas nove metros de largura, o piloto considerava fundamental ter a “mão boa” no volante. Afinal, no GP de Monte Carlo, são necessárias cerca de 3 mil trocas de marchas. O reinado de Senna em Mônaco começava em 1987.

O maior vacilo da carreira de Ayrton Senna

Embora no ano seguinte, já na McLaren, tenha cometido seu maior erro na Fórmula 1. Disparado na liderança e com uma atuação até então perfeita no GP de Mônaco de 1988, Ayrton Senna abria quase um minuto de vantagem sobre Alain Prost, agora seu companheiro de equipe, na 67ª volta. Ali, florescia uma das mais fascinantes rivalidades da história do esporte.

Afinal, o francês acreditou que Senna não tirava o pé, mesmo diante da vantagem abissal de 58 segundos, para lhe aplicar uma volta inteira. Contudo, num momento de desconcentração, a McLaren do brasileiro bateria na curva Portier, da entrada do túnel. Desse modo, a vitória caiu no colo de Prost, faltando 11 voltas para o final. Revoltado com ele mesmo, Ayrton Senna voltaria a pé para seu apartamento, a 400 metros da curva, naquela mesma hora. Menos mal que os pontos desperdiçados não fariam falta na conquista do primeiro título mundial. Nos quatro anos que viriam, só daria Senna em Monte Carlo.

Em 1989, a relação com Alain Prost era insustentável. Num ambiente tenso, o brasileiro ganharia o GP de Mônaco pela segunda vez. E dessa vez sem barbeiragem. Novamente, abriria uma distância gigantesca, de 52 segundos sobre o francês. “A diferença só não foi maior porque Senna, desde a 31ª volta, vinha brigando com o câmbio de seu McLaren. Primeiro, pela perda da segunda marcha e, depois, pela quebra da primeira, a duas voltas do final”, lembrou Lemyr Martins. Contudo, Alain Prost seria o campeão em 1989.

Vitória com carro reserva

Na temporada de 1990, o GP de Mônaco marcou a centésima corrida de Ayrton Senna na Fórmula 1. Naquela altura do campeonato, Alain Prost já estava na Ferrari, enquanto Gerhard Berger se tornava o companheiro do brasileiro na McLaren. Na primeira largada da prova, o francês e o austríaco colidiram na curva Mirabeau, facilitando a vida de Senna na relargada. Naquela edição, o futuro bicampeão naquela temporada completaria as 78 voltas no tempo recorde de 1h52min45s, com uma espantosa diferença de um minuto e oito segundos na frente no segundo colocado Jean Alesi.

A edição de 1991 do GP de Mônaco marcaria a quinta pole position seguida de Ayrton Senna nas ruas do Principado. Mas um imprevisto fez com que largasse com o carro reserva, após sentir um tranco seco com o titular. Mesmo assim, o automóvel correspondeu às expectativas, liderando a maior parte da prova. Logo após superar uma pressão imposta pelo italiano Stefano Modena, ainda perderia a liderança para a Ferrari de Prost depois de uma troca de pneus. Mas sua McLaren ultrapassaria o francês, encaminhando assim a sua quarta vitória em Monte Carlo, no ano de seu último título na Fórmula 1.

O tricampeão mundial começaria a enfrentar dificuldades a partir de 1992, quando a Williams “de outro planeta” passou a reinar na Fórmula 1. O carro com o motor Renault, através do acréscimo de dispositivos eletrônicos como a suspensão ativa e o controle de tração, se tornaria imbatível. Aliás, Senna chegou a recusar o convite para ingressar à escuderia já naquele ano, por fidelidade à Honda. A mudança aconteceria duas temporadas depois.

A inesquecível perseguição de Mansell a Ayrton Senna

No GP de Mônaco de 1992, largou na terceira colocação. Aquela seria de longe a mais difícil de suas seis vitórias. O cenário foi o corriqueiro ao longo daquela temporada. Pole position, Nigel Mansell disparou, reinando absoluto ao longo da prova. Parecia que seria mais uma vitória de ponta a ponta. Só parecia…

Da primeira até a 69ª volta, o Leão dominou a corrida em Monte Carlo, mantendo uma média de 20 segundos na frente da McLaren do brasileiro. Entretanto, na 70ª, Mansell foi obrigado a parar nos boxes para trocar o pneu traseiro direito, que apresentou problemas. Ayrton Senna, que vinha na segunda colocação, assumiria a liderança para não perdê-la mais. Era o começo de um dos mais épicos momentos da história da Fórmula 1.

“Ao ver Mansell no boxe, Senna decidiu: ‘Agora vou vencer’, convenceu-se. Assumiu a ponta e, outra vez, aos berros repetia: ‘Vou vencer, vou vencer'”, conta Lemyr Martins. Então, as oito últimas voltas foram eletrizantes, com o Leão tentando ultrapassar Ayrton Senna de todas as formas, enquanto a McLaren do brasileiro, muito menos veloz do que a máquina da Williams, sustentava de maneira heróica a posição.

Senna recebeu a bandeirada com o bico do carro de Mansell quase encostando no aerofólio da McLaren. A diferença foi de apenas 0,215 segundo. Ayrton Senna se igualava a Graham Hill, o então Mister Mônaco, que havia conquistado cinco vitórias no Principado na década de 60. Mas o domínio do Leão em 1992 foi tão gigantesco que o britânico conquistaria seu único título na Fórmula 1 com cinco corridas de antecedência.

Damon Hill veria a marca de seu pai ser quebrada em Mônaco

A sexta e última vitória de Ayrton Senna em Monte Carlo ocorreria em 1993. Em sua última temporada pela McLaren, bateria a marca de Graham Hill com seu filho Damon Hill na pista. Assim, Michael Schumacher liderou a primeira parte da prova, mas foi traído pelo motor na 32ª volta. Já Alain Prost levou uma punição de 10 segundos por ter queimado a largada.

Então, da 33ª volta em diante, Ayrton Senna partiu para uma tranquila vitória, ultrapassando Prost por duas vezes e ainda lhe colocando uma volta de vantagem. “Manter distância de certas pessoas faz bem”, alfinetou o brasileiro, já que, na época, o francês havia vetado a contratação de Senna pela Williams.

No pódio, Damon Hill demonstraria toda sua elegância. Segundo colocado do último GP de Mônaco de Ayrton Senna, o britânico fez questão de cumprimentá-lo. “Parabéns Rei de Mônaco. Se meu pai fosse vivo, certamente viria cumprimentá-lo”, saudou.

Escrito por Marco Andrews Felgueiras Maciel

Jornalista formado pela PUCRS em 2007 e pós-graduado em Imprensa Esportiva e Assessoria de Comunicação pela Universidade Castelo Branco. Atuei na web-rádio Voz do Futebol e escrevo para o Torcedores.com desde 2022, além de colaborar para o site Nas Pistas a partir de 2023. Também edito o SAMBARIO, voltado para carnaval e sambas-enredo, desde 2004. No canal do YouTube do portal (@sambariosite), entrevistamos mais de uma centena de personalidades do samba e do carnaval nos tempos da pandemia. Ainda fui redator e assessor de imprensa da ALAP (Associação Latino-Americana de Publicidade).

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