Mateus Pereira
Um dos mais lendários pilotos da história da Fórmula 1, Niki Lauda terá seu nome marcado para sempre no automobilismo mundial. Isso porque o austríaco foi nada menos que tricampeão mundial da categoria, conquistando seus títulos em 1975, 1977 e 1984. Além disso, uma bela história de superação também faz parte de seu legado.
Há 45 anos, em 1976, Niki Lauda já era, com apenas 21 anos de idade, campeão mundial de Fórmula 1, graças ao título conquistado na temporada anterior.
Naquele ano, o austríaco parecia se encaminhar ao seu segundo título consecutivo na categoria. Lauda, até 1 de agosto, liderava com certa tranquilidade o campeonato, com 5 vitórias, além de 8 pódios conquistados em 9 provas até então, acumulando 58 pontos. A única ameaça na briga pelo título era seu principal rival, James Hunt, da McLaren. O britânico havia conquistado 35 pontos, ocupando assim a segundo colocação.
O GP da Alemanha de 1976 ocorreu no antigo circuito de Nürburgring, com 22km de extensão, no primeiro dia de agosto daquele ano. Apesar dos riscos que rodeavam a pista, a direção de prova não imaginava que aquela data entraria para a história do automobilismo de forma negativa.
Os momentos que antecederam a corrida foram de muita chuva, comprometendo assim as condições do já perigosíssimo traçado. Antes da prova, Lauda tentou liderar um boicote entre os pilotos para que a mesma fosse suspensa, devido a insegurança da pista. Infelizmente, seus esforços foram em vão e os carros se alinharam no grid para que o GP da Alemanha tivesse início.
Pouco tempo após o começo da prova, a maior parte do circuito alemão já estava seco. Dessa forma, a maioria dos pilotos foram aos boxes para trocar seus pneus. Até aquele momento, Lauda estava muito atrás na corrida, mas apresentou um ritmo forte após retornar de seu pit stop.
O acidente em Nürburgring
Apesar de estar voando nas pistas de Nürburgring, fazendo uma bela corrida de recuperação, o líder do campeonato até aquele momento não esperava pelo fatídico acontecimento que o destino lhe preparava.
Em uma das voltas, a suspensão de sua Ferrari 312T2 quebrou, lançando assim o austríaco ao guard-rail à direita do traçado. Logo após a batida, o veículo voltou às pistas em chamas, sendo atingido por mais dois carros do grid, que vinham logo atrás.
Logo após, Arturo Merzario conseguiu desviar do acidente. Desesperado, o piloto italiano deixou seu monoposto e correu em direção ao veículo de Niki Lauda, já tomado pelo fogo, em busca de resgatar seu companheiro de profissão.
Porém, infelizmente, apenas após inúmeras tentativas entre os pilotos e a equipe responsável pela segurança da prova, o austríaco foi finalmente retirado de seu cockpit. Após o resgate, ele foi imediatamente levado ao hospital.
No vídeo abaixo, disponível no YouTube, não há o momento exato das colisões, por conta das diretrizes da comunidade. No entanto, é possível observar os momentos antes do ocorrido e o agoniante resgate à Lauda após o acidente.
ATENÇÃO: IMAGENS FORTES
A surpreendente recuperação e o retornos às pistas
Com queimaduras graves por todo o seu corpo, Lauda também havia inalado fumaça tóxica, sofrendo várias contusões no peito, além de queimaduras graves na cabeça. Ele também perdeu parte da orelha direita. Ao chegar no hospital, o piloto foi colocado em coma induzido como medida de precaução.
Correndo grande risco de morte, o automobilista persistiu em seu tratamento com extrema força de vontade. Seu objetivo era voltar o mais rápido possível às pistas, ainda na esperança de defender seu título mundial naquela temporada.
Surpreendentemente, cerca de seis semanas após o terrível acidente em Nürburgring, Lauda retornava à Fórmula 1 para o GP de Monza, na Itália. Apesar de um início de prova vacilante, o austríaco demonstrou claros sinais de recuperação nas pistas e conquistou a P4 naquele fim de semana.
Neste dia, o mundo testemunhava o que muitos acreditavam ser impossível algumas semanas antes: Niki Lauda não só encarou e venceu a morte, como retornou para fazer o que mais amava, muito antes do que poderia se imaginar.
O legado de Niki Lauda
Na temporada de 1976, apesar de seu rápido retorno ao campeonato, Niki Lauda não conseguiu defender seu título. Após desistir do GP do Japão, o último daquele ano, por conta dos riscos que a pista poderia proporcionar aos pilotos, o austríaco viu seu rival, James Hunt, vencer o campeonato com apenas um ponto à sua frente.
No entanto, o melhor ainda estaria reservado para a carreira de Lauda, que veio a conquistar o título mundial no ano seguinte, em 1977, e voltou a escrever seu nome entre os campeões da Fórmula 1 em 1984.
Com sua destreza e habilidade única nas pistas, além de declarações marcantes e sua brilhante história de recuperação, o metódico Niki Lauda se tornou uma das maiores lendas do automobilismo mundial.
Além das pistas, o austríaco se tornou proprietário da companhia aérea Lauda Air e foi também diretor da equipe Mercedes de Fórmula 1, ligada à fábrica Mercedes Benz.
Andreas Nikolaus Lauda faleceu em 20 de maio de 2019, aos 70 anos, devido a problemas renais. O ex-piloto havia passado por um transplante de pulmão em agosto de 2018 e, apesar de uma boa recuperação inicial, seu estado de saúde se deteriorou nos meses seguintes.
Ainda em vida, em 2013, o austríaco teve a história de sua rivalidade com James Hunt recriada em Hollywood, no longa-metragem Rush – No Limite da Emoção. O filme também ficou marcado por reconstituir nas telas do cinema o acidente sofrido por Lauda em 1976.
Um homem inteligente tira mais proveito dos seus inimigos do que um tolo dos seus amigos.
Niki Lauda
