Implementado em 2018, o halo foi motivo de polêmica na Fórmula 1. Um dos principais motivos de críticas até hoje é que a peça em formato de “T” em torno do cockpit afeta a estética dos carros, o que não agrada parte dos fãs da categoria. No entanto, seis anos após sua implementação, já se tornou mais do que comprovada a sua importância para a segurança dos pilotos.
Desenvolvido em titânio para resistir a impactos de até 12 toneladas, o halo foi uma medida implementada para aumentar a segurança na F1 devido a um trágico acidente em 2014, que resultou na morte de Jules Bianchi. Esta inovação desempenhou assim um papel fundamental na proteção dos pilotos contra danos graves em acidentes de diversos níveis, como o caso chocante de Romain Grosjean em 2020.
Em 5 de outubro de 2014, Jules Bianchi sofreu um grave acidente no circuito de Suzuka, no Japão, ao colidir com um trator que estava removendo o carro de Adrian Sutil. O impacto resultou em uma colisão direta da cabeça de Bianchi com o trator, deixando o piloto da Marussia em coma por oito meses.
Infelizmente, ele veio a falecer em julho do ano seguinte devido a lesões cerebrais decorrentes do acidente. Esse foi o triste “evento canônico” que demonstrou a urgência da criação de algo que impedisse maiores danos à cabeça de pilotos de Fórmula 1 além de seus capacetes.
Momentos que comprovam a importância do halo na Fórmula 1
Seguindo como base uma pesquisa feita pelo perfil @formulalau, no X – o antigo Twitter, relembramos cinco momentos em que a peça foi fundamental para o bem-estar dos automobilistas, além de outros três tristes acidentes que servem como “prova” de que algo assim fez falta por bastante tempo na Fórmula 1.
Romain Grosjean (GP do Bahrein de 2020)
Aproveitando o gancho citado anteriormente, um dos acidentes mais assustadores dos últimos anos da Fórmula 1 teve participação direta e positiva do halo. Durante a prova no Bahrein em 2020, Romain Grosjean perdeu o controle de sua Haas e se chocou em cheio com o guar-rail, transformando seu carro em uma grande bola de fogo.
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Além de sair com poucas queimaduras, sua cabeça foi totalmente protegida durante o impacto. O halo, inclusive, resistiu intacto ao impacto e ao fogo, conforme manda o regulamento de segurança.
Com Grosjean não foi a primeira vez em que a barreira, presente para evitar maiores tragédias nos circuitos, falhou em fornecer segurança na Fórmula 1. Em 1974, por exemplo, Helmuth Koinigg foi decapitado após atravessar o guard-rail. Como campeão da Fórmula 3000 de seu país, ele recebeu um convite para participar de um Grande Prêmio de Fórmula 1.
O austríaco, então com 25 anos, sofreu o acidente fatal após fazer duas ultrapassagens na primeira volta, antes de se chocar então contra a barreira da curva Parabolica. A falta de algo que protege-se o cockpit de Konigg fez com que ele sequer tivesse chances de sair vivo do acidente.
Brendon Hartley (GP da Inglaterra de 2019)
Passando agora para a ordem cronológica dos acontecimentos “pós-Bianchi”, o halo deu assim a primeira demonstração de sua eficiência já em seu primeiro ano de implementação, mais especificamente em Silverstone.
Na ocasião, Brendon Hartley perdeu o controle de seu carro devido a uma falha na suspensão. Sua Toro Rosso colidiu diretamente com a barreira de pneus. Embora o impacto direto pudesse não causar a morte, certamente teria resultado em ferimentos graves ao piloto neozelandês. Felizmente, ele saiu ileso do acidente.
Em uma colisão semelhante em 1975, na Áustria, o piloto estadunidense Mark Donohue perdeu o controle do carro e colidiu com a cerca. Apesar de ter caído em um barranco após o acidente, o piloto conseguiu sair consciente do veículo, mas com seu capacete amassado pelo impacto direto na cerca do circuito. Ele até concedeu entrevistas antes de começar a sentir tonturas e náuseas.
Mark estava de volta à Fórmula 1 após dois anos afastado das pistas devido ao choque emocional de perder um amigo na Indy 500. Infelizmente, ele veio a falecer dois dias depois devido a uma lesão cerebral causada pelo acidente.
Carlos Sainz (GP da Toscana de 2020)
Carlos Sainz, pela McLaren em 2020, enfrentou uma colisão envolvendo vários carros em Mugello e acabou ficando debaixo de uma Alfa Romeo. Além disso, detritos de outros carros foram em direção ao capacete de Sainz. O halo, evitou que sua cabeça fosse atingida pelos outros carros, além de defendê-lo das peças soltas que voavam pela pista.
Falando em detritos e outros objetos soltos durante acidentes, uma triste ocasião marcou negativamente a vida dos brasileiros em 1994. Isso porque Ayrton Senna teve seu crânio perfurado pela suspensão solta de sua Williams, causando sua morte no local do acidente. O acidente foi muito forte, mas algo como o halo poderia agir como um dos fatores que evitariam a morte da lenda do automobilismo.
ATENÇÃO: IMAGENS FORTES!
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Lewis Hamilton (GP da Itália de 2021)
Um ano após os acidentes de Grosjean e Sainz, vimos o halo evitar que algo mais sério ocorresse durante o momento de maior tensão entre os rivais Lewis Hamilton e Max Verstappen. Na disputa pela liderança em Monza, os carros de Mercedes e Red Bull se enroscaram e tiveram de deixar a prova.
Durante o acidente, o carro de Verstappen passou por cima do de Hamilton, gerando um momento que motiva discussões entre os fãs de ambos os pilotos até os dias atuais. As imagens evidenciam que se não fosse pelo halo, Lewis poderia ter sido esmagado pelo pneu do carro adversário.
Guanyu Zhou (GP da Inglaterra de 2022)
Na etapa de Silverstone de 2022, ocorreu outra falha em uma estrutura de segurança: desta vez, foi o Santantônio. Trata-se de uma barra localizada bem acima do carro, que foi implementada em 1968 para garantir a integridade do piloto em caso de capotagem.
No entanto, o de Zhou Guanyu, naquele dia, falhou totalmente. A única peça que o manteve separado do chão enquanto seu carro se arrastava de cabeça para baixo pelo asfalto e pela brita do circuito foi justamente o halo – tudo isso em alta velocidade. O carro da Alfa Romeo terminou preso entre a barreira de pneus e a grade de segurança, que protege o público nas arquibancadas.
As imagens do capotamento do piloto chinês são chocantes e assustaram a Fórmula 1 na época. Ele, felizmente, saiu ileso: “Não sei como sobrevivi. Mas agora, olhando para trás, sei que o halo me salvou“; disse o piloto, em declarações na época.
A Fórmula 1 segue aprendendo com os erros em sua história e esperamos que novas tragédias não sejam necessárias para evitar acidentes futuros. O halo, apesar de demorar a chegar, foi uma adição mais do que necessária, evitando muito provavelmente que notícias tristes assolassem novamente a categoria nos últimos anos.